domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Segredo

Silvia Costa da Silva


Muitas pessoas neste mundo questionam: qual o segredo?
Qual o segredo para ser feliz?
Qual o segredo para ser amado?
Qual o segredo para achar graça nas coisas?
Qual o segredo para ter esperanças no amanhã?
Qual o segredo para bem relacionar-se?
Qual o segredo?

Qual o segredo para envelhecer feliz?
Ou para não envelhecer?
Qual o segredo para sorrir mais do que chorar?
Ou para chorar com dignidade?
Para andar na chuva sem sentir frio?
Para sentir calor nos dias frios?
Qual o segredo?

Para olhar-se no espelho com satisfação?
Para ter autocrítica sem se ferir?
Para construir coisas belas de situações feias?
Qual o segredo para por em dia todas as coisas
Tendo sabedoria para descartar somente as desimportantes?

Qual o segredo?
Qual o segredo?

O segredo é não saber o segredo!
Viver não tem fórmulas.
O segredo é sentir que se descobriu o segredo
Quando geramos mais sorrisos do que críticas.
Aprendizados em conjunto.
Congraçamento de vontades, de sonhos, e por que não? De ilusões.

Neste momento, geralmente, pensamos na mesma canção
Que está na cabeça do amigo.
Cantarolamos do nada...

E muitas pessoas nesta hora questionam: ainda há segredo?

O Amor Acaba

Paulo Mendes Campos

      O amor acaba.
      Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois do teatro e do silêncio.
      Acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar.
      De repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel, ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinza o escarlate das unhas.
      E acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados; e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado.
      Na insônia dos braços luminososos do relógio. Mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia.
      No sábado depois de três goles mornos de gim à beira da piscina.
      Em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadeza, onde há mais encantos que desejo.
      Em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero.
      Nos roteiros de tédio para o tédio, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada.
      Em cavernas de sala e quartos conjugados, o amor se eriça e acaba.
      No inferno o amor não começa.
      Na usura o amor se dissolve.
      Uma carta que chegou depois, o amor acaba.
      Uma carta que chegou antes, o amor acaba.
      O amor acaba na descontrolada fantasia da libido.
      Às vezes acaba na mesma música que começou, no mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes.
      No coração que se dilata e quebra e o médico sentencia imprestável para o amor.
      Às vezes o amor acaba como se fosse melhor nunca ter existido, mas pode acabar com doçura e esperança.
      Uma palavra muda e articulada e acaba o amor: na verdade, no álcool, de manhã, de noite, na floração excessiva da primavera, no abuso do verão e na dissonância do outono.
      Em todos os lugares, a qualquer hora e por qualquer motivo o amor acaba.
      Acaba para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto."