quinta-feira, 29 de março de 2012

Inspirada no sertão nordestino, Bethânia lança seu 50º disco


      Jornal do Brasil
      RIO DE JANEIRO - A cantora Maria Bethânia lançou nesta quarta-feira seu disco número 50, "Oásis de Bethânia", no qual declara sua paixão pela poesia e pelo sertão brasileiro, "onde falta tudo", mas é sua fonte de inspiração.
      "Sertão é onde não tem nada. Não tem água, falta tudo, a vida é seca. É o limite que Deus colocou. Para mim isso é uma fonte, uma nascente muito pura, me bota do tamanho que sou", disse Maria Bethânia a jornalistas no Rio.
      O disco, o quinquagésimo lançado em 47 anos de carreira, "retrata essa coisa árida do mundo e ao mesmo tempo o amor do sertanejo por sua terra", afirma a cantora, irmã de Caetano Veloso.
      A capa do disco mostra esse sertão, "em algum ponto (do estado) de Alagoas".
Disco Oásis de Bethânia foi lançado nesta quarta-feira
      Com dez canções, o disco já está disponível na loja on-line da Apple, o iTunes, e chegará às lojas em 1º de abril. Cada faixa tem um arranjador ou compositor diferente, com nomes importantes da música brasileira como Djavan ("Vive"), Chico Buarque ("O Velho Francisco"), além de Lenine, Hamilton de Holanda, Roque Ferreira, Marcelo Costa, ente outros.
      O título "Oásis" foi inspirado em um texto da própria Bethânia que, pela primeira vez, gravou um de seus textos em disco. Os versos são interpretados entre a letra e a poesia de Paulo César Pinheiro na canção inédita "Carta de Amor".
      Apaixonada por poesia, a cantora tem o poeta português Fernando Pessoa como um de seus ídolos. É comum vê-la em leituras de textos literários pelo Brasil. A cantora diz que adora escrever, apesar de insistir que não é escritora.
      "Escrever é purificador (...). A brincadeira de ‘Carta de Amor’ é para mim, para me livrar de demônios, angústias", declarou.
      Questionada sobre a ausência de Caetano Veloso no disco, Bethânia explica que inicialmente havia uma música inédita composta por ele nos anos 1960 que entraria no álbum, mas que acabou sendo descartada.
      "Na primeira lista ele estava, com uma canção estranhíssima, que fez em 1967 para mim. Ele musicou um poema de Sade Miranda. Mas quando eu terminei, vi que estava sobrando. É mais uma coisa que eu posso guardar para a cena. O espetáculo que pretendo para o disco tem que ser diferente."
      A previsão é que a Bethânia faça shows para a divulgação do álbum no segundo semestre.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Morre aos 88 anos no Rio o escritor Millôr Fernandes

Jornal do Brasil

      Morreu no Rio, aos 88 anos, o escritor Millôr Fernandes. Ele teve falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca. O velório está marcado para quinta-feira (29), das 10h às 15h, no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária. Em seguida, o corpo será cremado.
      Millôr chegou a ser internado duas vezes na Casa de Saúde São José, no Humaitá, Zona Sul, em 2011.
Escritor, jornalista, desenhista, dramaturgo e artista Millôr começou a colaborar com a revista "O Cruzeiro" aos 14 anos. No final dos anos 60, foi um dos fundadores do jornal "O Pasquim".
      Depois, escreveu várias peças e se tornou o principal tradutor das obras de William Shakespeare no país.
Millôr em entrevista ao 'JB', onde trabalhou nos anos 80 e 90
Millôr em entrevista ao 'JB', onde trabalhou nos anos 80 e 90

      Atualmente, mantinha um site pessoal em que escrevia textos de humor e cartuns, além de reunir seus trabalhos dos últimos 50 anos. 

No Jornal do Brasil

      Em 1985, Millôr passou a colaborador do Jornal do Brasil, com espaço cativo na seção Opinião na página 11 - com suas frases e desenhos temperados com seu habitual humor sútil e enxuto. Trabalho que realizou com um perfeccionismo irremediável até 24 de novembro de 1992, quando comunicou aos seus leitores que sairia de férias para descansar um pouco. 

Blog Hoje na História

      "Morrer é uma coisa que se deve deixar sempre para depois". Com este pensamento Millôr Fernandes viveu 88 anos bem vividos antes de que sua saga chegasse ao fim em decorrência de falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca.

      "Não vou apresentar Millôr Fernandes: quem o conhece sabe que eu teria que escrever várias páginas para apresentar uma figura tão variada em atividades e talentos". Faço dessas palavras de Clarice Lispector, citadas na abertura de uma entrevista do início dos anos 70 feita ao artista, o prefácio para lembrar um pouco da trajetória de Millôr. Até porque, mencioná-lo como um dos grandes humoristas que o país já fez, é confirmar o óbvio.
      Graficamente, Millôr foi um conjunto de traços intencionalmente mal-acabados, agressivos, coloridos. Textualmente foi irreverente, inúmeras vezes virulento, construído sobre o humor das situações sociais, políticas e religiosas, o que lhe rendeu bastante indisposição contra censores nos encrudescidos anos de chumbo. Mas deixemos prevalecer a sua (dele) própria definição: "Estou sempre contra e solto. Eu faço de tudo. Minha busca é total!"
      Modesto?! Não coube a Millôr ser modesto. Diante das tantas peripércias em que se aventurou, por que ser modesto? Sem estilo, sem medo e sem papas na língua, o dono de uma versatilidade admirável, foi pintor, poeta, autor de teatro, compositor... deixando uma generosa contribuição para a cultura brasileira.
      Millor Fernandes nasceu Milton Viola Fernandes em 16 de agosto de 1923. Carioca do Méier, leonino metódico, ainda menino ficou órfão de pai e mãe, e logo separado de três irmãos, aprendeu a ser feroz defensor de sua vida, habituando-se a batalhar cada passo e a traçar o seu destino. Uma realidade bastante distante da até então família classe média com um casarão na Zona Norte da cidade. Naquela época, sem dúvida, nenhum cientista social apostaria em seu futuro promissor... Eram tempos da pobreza envergonhada, que marcariam sua história. Mas engana-se que ousou pensar que estas agruras o fizeram amargo. Muito pelo contrário. Soube como poucos fazer humor, sorvendo da vida o que valia a pena, se dando o luxo de viver fazendo o que gostava. Sim, havia doses de causticidade, às vezes, cavalares.
      Foi no fim da adolescência que virou Millôr, uma brincadeira com a sua própria assinatura. Achou mais sonoro, artístico do que Milton. Estava certo. Nessa época ingressou no jornalismo. Atribuia a Tio Viola, chefe da gráfica da revista 'O Cruzeiro', este mérito. A publicação, uma das mais concorridas da época, rendeu-lhe projeção no meio da mídia e abriu portas para novos vôos.Lá permaneceu até 1962, quando foi demitido pelo escândalo que causou com a publicação da A verdadeira história do paraíso, encerrando uma história de 25 anos de colaboração.
      Em jornais passou pelo Diário da Noite, O Jornal e o Última Hora, antes de - no final dos anos 1960 - tornar-se um dos fundadores do "O Pasquim", semanário reconhecido por seu humor ousado e inteligente, ativo instrumento de combate ao regime militar. Conciliava com a experiência a autoria de diversos tipos de peças teatrais, fase em que se tornou também o principal tradutor das obras de William Shakespeare no país.

 

      No início de fevereiro de 1985, passou a colaborador do Jornal do Brasil, com espaço cativo na seção Opinião na página 11 - onde não poupou em suas frases e desenhos temperados com seu habitual humor sútil e enxuto. Trabalho que realizou com um perfeccionismo irremediável até 24 de novembro de 1992, quando comunicou aos seus leitores que sairia de férias para descansar um pouco. Em carta enviada ao editor, entretanto, disse que não voltaria por discordar da publicação de críticas de leitores que não fossem "importantes" ou "respeitáveis pela argumentação". Esse era Millôr...
      Na literatura, foram inúmeros títulos de sucesso, entre eles Trinta anos de mim mesmo, Que país é este?, Ministério das perguntas cretinas e Fábulas fabulosas.
      Certa vez, Millôr foi questionado: _"Medo de morrer"?
      Não titubeou, foi certeiro:_"Não. A eternidade deve ser pior do que morrer..."

      Agora, onde quer que esteja, deve estar rindo de tudo, de todos e de si mesmo.

      Frases da coleção de Millôr:
"Divagar e sempre".
"Mesmo quando escrevo sem intenção de fazer humor, as pessoas riem".
"Nunca pertenci a partidos políticos, nunca fui escoteiro, nunca fui religioso e nunca tive problemas sexuais".
"Achar que podemos deixar alguém nos restringir parcialmente a liberdade é igual achar que podemos perder parcialmente a virgindade".
"Quem se curva aos opressores mostra o traseiro aos oprimidos".
"Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos bem".
"Não sou mestre. Na verdade me acho um semestre".

Morre a cantora Ademilde Fonseca, a 'Rainha do Chorinho'

O Dia



Cantora de 91 anos de idade e 71 de carreira sofreu um mal súbito em casa, em Ipanema

      Rio -  A cantora Ademilde Fonseca, de 91 anos, morreu no fim da noite desta terça-feira, na Zona Sul do Rio. Conhecida com a Rainha do Choro, ela sofreu um mal súbito em sua casa, no bairro de Ipanema. Segundo a família, o enterro será realizado nesta quarta-feira, no cemitério São João Batista, em Botafogo, mas o horário ainda não foi definido. Ela deixa uma filha, a cantora Eimar Fonseca, três netas e quatro bisnetos.
      Segundo a neta Ana Cristina, Ademilde Fonseca tinha problemas cardíacos, mas vinha se apresentando normalmente. Sua morte surpreendeu a família. No último fim de semana ela fez shows em Porto Alegre. Na véspera de sua morte, havia gravado dois programas para a Globo News. A Rainha do Chorinho tinha 71 anos de carreira.
      Ademilde Fonseca Delfino nasceu em Pirituba, no município de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte. Suas interpretações a consagraram como a maior intérprete do choro, gênero da música popular e instrumental brasileira. Trabalhou por mais de dez anos na extinta TV Tupi e seis discos renderam mais de meio milhão de cópias.
      A Rainha do Chorinho ainda atuou muitos anos nas rádios Tupi e Nacional. Além de fazer sucesso no Brasil, regravou grandes sucessos internacionais e se apresentou em outros países. Ela é considerada a criadora do choro cantado e também foi a primeira cantora nordestina a encantar o país com esse gênero. A cantora contou em recente entrevista que a música 'Tico-Tico no Fubá' foi a primeira canção em que colocou letra em um chorinho.


terça-feira, 27 de março de 2012

O Brasil sem Chico é mais sem graça

Por Aurélio Munhoz*
Carta Capital



      As longas reportagens laudatórias veiculadas na imprensa sobre Chico Anysio não fizeram jus à sua biografia. Pelo menos não do jeito que deveriam ter feito. A costumeira pressa – e sobretudo a ausência de coragem de contrariar os interesses dos barões da mídia – impediram a quase totalidade dos veículos jornalísticos de explicar ao Brasil as verdadeiras razões pelas quais o homem foi um dos maiores humoristas brasileiros.
      Chico foi um dos ícones do gênero porque foi o principal responsável pela criação e desenvolvimento de um modelo de humor feito com genuína inteligência, sensibilidade e criatividade. Humor de personagens (mais de 200, no seu caso) identificados com a sociedade brasileira, feito por um profissional do riso verdadeiramente talentoso. Humor de um artista de verdade, forjado na lida do rádio e do teatro, que não raro escrevia seus próprios textos e se preocupava em transmitir conceitos e valores com sua arte. Humor não é só riso e dinheiro, enfim.
      Não falamos aqui do talento de Chico Anysio como escritor, dublador e até pintor respeitado, mas da sua extraordinária capacidade de usar a graça, a inteligência e o senso crítico para encarnar tipos atemporais que retratam as mais variadas facetas da alma brasileira, boa parte dela figurinha carimbada da grande mídia – a boa e a ruim, a honesta e a corrupta, a culta e a ignorante, a humilde e a prepotente.
      Personagens, desde agora, imortais. Como Alberto Roberto, o ator cheio de estrelismo e vazio de talento. Canavieira e Justo Veríssimo, os políticos ricos, corruptos e populistas. Coalhada, o perna-de-pau ignorante que vivia se defendendo das críticas dos torcedores de futebol. Primo Rico, o homem cheio de soberba que nunca tinha tempo de ajudar seu parente pobre – nem ninguém. Tim Tones, o pastor-picareta que enriqueceu às custas da fé alheia.
      E, claro, o Professor Raimundo, o maior e mais copiado de todos os seus personagens, símbolo dos corajosos e mal pagos professores que dão duro nas salas de aula brasileiras, muitas vezes diante de uma legião de idiotas. Chico Anysio certamente tinha seus defeitos, mas eles foram incomparavelmente menores que suas virtudes.
      Sua obra se destaca – e, agora, se eterniza – por mostrar ao Brasil boa parte do que verdadeiramente somos, sem retoques. Destaca-se, porém, além de tudo, por conta da mediocridade que impera no humor da tevê brasileira, pelo menos a aberta. Não que não tenhamos humoristas talentosos na tevê, nos teatros ou mesmo nas ruas e praças das nossas cidades. Ocorre que profissionais com este perfil são minoria no rol de humoristas que pulula pelos canais de televisão nativos.
      É que, baseada na falsa ideia de que o povo gosta apenas de piadas politicamente incorretas, de cenas de pastelão e de sexo, a tevê brasileira prefere colocar em primeiro plano uma trupe de humoristas grosseiros, arrogantes, bobos e – suprema contradição – sem nenhuma graça, negando espaço a gente dotada de verdadeiro talento.  Humoristas escoltados por uma safra de roteiristas-criadores de arquétipos e esquetes pobres e sem sentido. Profissionais do riso que, tristemente, não sabem fazer rir. Mas que, pior, ganham rios de dinheiro com isso, mostrando o grau de inteligência raso de muitos brasileiros, bem como dos que patrocinam este gênero de humor.
      Chico Anysio vai fazer muita falta. Se é pieguice e anacronismo sentir saudades de quem nos fez rir durante praticamente toda nossa vida, pago o preço de tecer loas ao passado. Melhor ser piegas acreditando que a inteligência deve predominar sobre a burrice do que me render ao péssimo gosto do humor que predomina na tevê brasileira. “E que pode piorar…”, como diria Urubulino, outro personagem do velho mestre.

*Aurélio Munhoz é jornalista, sociólogo, consultor em Comunicação e presidente da ONG Pense Bicho. Pós-graduado em Sociologia Política e em Gestão da Comunicação, foi repórter, editor e colunista na imprensa do Paraná.

terça-feira, 20 de março de 2012

Arqueólogos localizam cerca de 3 mil estátuas raras de Buda

Jornal do Brasil

      Arqueólogos da China anunciaram nesta terça-feira a localização de cerca de 3 mil estátuas de Buda. As imagens estavam enterradas na província de Hebei, no Norte do país. Para especialistas, essa é a maior descoberta arqueológica registada na região nas últimas décadas.
      O chefe da equipe de arqueólogos da Fundação Popular da China, He Liqun, disse que as 2.895 estátuas e fragmentos foram localizados em janeiro deste ano. O material arqueológico estava em Yecheng, uma antiga localidade com 2,5 mil anos de história.
      As autoridades da China informaram também que foram localizados materiais de artilharia, utilizados por tropas japonesas na 2ª Guerra Mundial, na região de Heilongjiang, no Nordeste do país.
      Em 18 de setembro de 1931, as forças japonesas atacaram o quartel das tropas chinesas em Shenyang, no Nordeste da China. A ocupação japonesa na região durou quatro anos. Com a derrota do Japão em 1945, segundo especialistas chineses, grande quantidade de produtos químicos, armas e bombas foi enterrada.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Dentista

Kledir Ramil

      Dentista é uma ótima profissão para quem gosta de falar sem ser interrompido. Você coloca um tubo de sucção na boca do paciente, ou um chumaço de algodão para imobilizar a reação do outro, e pode escolher o assunto de sua preferência: futebol, política, Big Brother...
      Antigamente, quando aparecia alguém com dor de dente a solução era simples. O cara abria a caixa de ferramentas, pegava um alicate, metia o pé no peito do pobre coitado e liquidava a questão.
      Com o advento da broca elétrica, uma espécie de minibritadeira, o dentista começou a abrir buracos nos dentes dos pacientes e botar os micróbios pra correr. Aí, fazia uma faxina geral e tapava com argamassa, quer dizer, com uma massinha especial. Se você gostava de brincar de massinha de modelar quando criança, vai gostar de ser dentista. Ou, ainda melhor, vai adorar ser protético.
      Tiradentes é reconhecido como um dos grandes vultos da História do Brasil, não por suas habilidades de dentista, mas por participar de um movimento político que, entre outras coisas, reivindicava uma mudança na cobrança de impostos por parte do Império, que chegavam ao absurdo de 20%. Foi parar na forca e o problema não foi resolvido. Apesar de termos evoluído para uma República, nossa carga tributária continuou crescendo e já está beirando os 40%. Ou seja, apesar do sacrifício do Mártir da Independência, estamos cada vez mais com a corda no pescoço.
      Voltando à dentadura. Dentista sempre foi o horror das crianças (e de muitos adultos). Era um ser mitológico, comparável ao Bicho Papão e usado para assustar as criancinhas que não queriam escovar os dentes: “vou te levar no dentista pra você ver o que é bom”. Ou a pior das ameaças: “não é obturação, não! Vai ter que fazer tratamento de canal!”.
      Com a invenção da anestesia, a imagem do dentista melhorou bastante. Mesmo assim, não vejo muitos jovens falando em fazer Odontologia. Aliás, é uma das minhas preocupações atuais. Quem vai cuidar dos nossos dentes, quando ficarmos velhinhos?
      Minha esperança é que com o avanço da tecnologia - que já nos deu o iPad e a TV em 3D – a broca elétrica seja definitivamente aposentada e a visita ao dentista passe a ser um acontecimento agradável, prazeroso.
      Broca de dentista é uma das piores invenções da humanidade. Quer dizer, tenho que reconhecer que foi um avanço. O alicate sem anestesia era muito pior.

domingo, 18 de março de 2012

GAROTA. Há 50 anos pelo mundo

Clássico de Tom e Vinicius já não é mais tão gravado em português
ROBERTA PENNAFORT / RIO - O Estado de S.Paulo
 
      "Vinha cansado de tudo/de tantos caminhos/tão sem poesia/tão sem passarinhos/com medo da vida/com medo de amar", escreveu Vinicius de Moraes para a melodia de Tom Jobim, sobre uma certa moça de corpo dourado de Ipanema. "Quando na tarde vazia/tão linda no espaço/eu vi a menina/que vinha num passo/cheio de balanço/caminho do mar", seguiu, para depois jogar o papel fora e recomeçar, trocando o título Menina Que Passa por Garota de Ipanema.
      O mundo inteiro se encheu de graça há 50 anos, quando a dupla apresentou a garota num pequeno show em Copacabana, com João Gilberto e Os Cariocas. Em 63, Pery Ribeiro a lançou em LP. Em 67, Frank Sinatra a gravou com Tom. A partir daí, The Girl From Ipanema bateria a da língua de Vinicius: são 1.517 gravações em inglês contra 430, segundo a Universal, editora da faixa.
      O manuscrito dos versos originais, soturnos demais para a leveza da música, foram guardados por Tom para a posteridade. Poucos os conhecem. Já a versão solar que traduz o encantamento dos dois pela bela jovem Heloisa Eneida Paes Pinto, que passava por eles indo à praia, daria a Tom, Vinicius e seus herdeiros (cinco cada) o maior rendimento de direitos autorais de todo o seu cancioneiro.
      Dez anos atrás, estimava-se que o valor anual fosse de R$ 500 mil, dividido pelos dois. Nem o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), nem a Universal, tampouco as duas famílias divulgam a cifra atual. Segundo Maria Gurjão de Moraes, caçula de Vinicius, é bem mais baixa. "Garota de Ipanema está entre as músicas mais rentáveis, por sua popularidade. Mas os valores caíram mais de 70% na última década. Direito autoral não representa mais uma fonte grandiosa de receita para quase nenhum compositor."
A Universal conta mais de 800 produtos contendo a música, do disco de vinil ao DVD, de Stan Getz a Alexandre Pires. O brasileiro aprendeu que ela é uma das mais conhecidas do mundo. Só que no Brasil sua execução não é tão relevante, pelo menos quando se olham os dados do Ecad: está em 40.º no ranking dos últimos cinco anos, o qual vem liderando os sertanejos Victor Chaves e Sorocaba.
      Entre os artistas estrangeiros, já esteve mais em alta. Ana Lontra Jobim, viúva de Tom, conta que os pedidos de gravação e versão têm chegado mais para Corcovado, Samba de Uma Nota Só e Águas de Março.
      Na hora de aprovar ou não, ela analisa as propostas sem levar em conta o gosto pessoal, e age em harmonia com as filhas de Vinicius. "Eu penso: o Tom aprovaria ou não? Uma música como essa não se desgasta. A obra tem que seguir."
      Ana conta que os repasses são muito variáveis. Em 97, quando a Brahma fez uma propaganda de cerveja ao som de uma versão funkeada do clássico, com o então atacante em ascensão Ronaldo correndo "num doce balanço a caminho do gol", os herdeiros receberam R$ 300 mil.
      Caso a família Jobim ganhe o processo contra a Universal Musical Publishing que move nos Estados Unidos pela recuperação dos direitos dessa e de outras cinco músicas, em parte perdidos para o versionista Norman Gimbel, os dividendos devem subir. A mediação sairá em breve. "Foi uma coisa arbitrária, por debaixo dos panos. Não é o dinheiro, é a questão moral."
      Para quem ainda não viu: o documentário A Música Segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, neta de Tom, traz uma sequência deliciosa onze gravações, sendo a mais pitoresca La Ragazza di Ipanema, sucesso da cantora italiana Mina de 68.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Virou manchete!

Por Alberto Villas
Carta Capital

      Coleciono manchetes. Não, não se trata da extinta revista dos Bloch. São manchetes de jornais e revistas. Desde pequeno. Lembro-me que a primeira que guardei foi uma da Fatos & Fotos em 1966 quando só se falava em tri. A seleção Brasileira foi bi no Chile em 1962 e todos tinham certeza que o Brasil traria o tri de Londres. Depois do vexame, a Fatos & Fotos saiu com a manchete de capa: “A volta dos bi-campeões”. Foi aí que comecei a guardar manchetes. Inteligentes, boas, curiosas, bem sacadas, engraçadas, estranhas.
      Manchetes estranhas minha coleção tem muitas. Essas aí abaixo foram tiradas da Folha de S.Paulo, do Estadão, do Valor, do Globo e do saudoso Jornal do Brasil. Acredite.
USP ACHA ÁREA CEREBRAL DO MEDO PRIMITIVO
BALANÇO DOS PINGUINS ECONOMIZA ENERGIA
BERÇO DA CELEBRAÇÃO DO HEDONISMO SULISTA
SAFRA DE FUMO MENOR RENDE 10% A MAIS
BRASIL NÃO TEM VACA LOUCA
ZÉ CELSO COLOCA DECANO DO ÓCIO NO CIO
POESIA DE MARIA CARPI BEBE DO SÉCULO NUM SORVO SÓ
MORRE PACIENTE ATACADA
LIMOEIRO FINCADO EM AEROPORTO CRIATIVO
BRASIL NÃO ACEITA MAIS NEGOCIAR COM CAVALLO
A MULHER IDEAL É FEITA DE PRATA E COME ROSAS
CLIMA HULA-HULA PARA HAPPY HOUR COM CLIENTES
MULHER FAREJA GENES DO PAI EM CAMISETAS DE DESCONHECIDOS
JAPONÊS, TELEFONE E BARATA VIVERAM O MESMO DRAMA
      Sim, essas manchetes são verdadeiras e um dia foram impressas. As duas últimas que guardei vieram da primeira página do Globo que anda muito engraçadinho. Quer saber o título que deram para o garçom que derrubou quatro copos de cerveja em Ângela Merkel?
LOIRA GELADA
      A outra foi quando o aeroporto Tom Jobim ficou às escuras após a pane em duas linhas de transmissão de Furnas, causada por uma poda de árvores no Médio Paraíba. A manchete?
FOI PODA
      Mas confesso que as melhores manchetes, as imbatíveis, continuam sendo as do telejornal Aqui Agora que tanto sucesso fez na década de 1990. Lembro-me muito bem que, para uma reportagem sobre o nascimento de seis veadinhos no Simba Safari veio o manchete:
BICHARADA EM FESTA! AUMENTA O NÚMERO DE VEADOS EM SÃO PAULO
      No dia em que um furacão varreu Miami, a manchete que surgiu foi:
FURACÃO NA FLÓRIDA! MIAMI VAI-SE!
      Um homem sem dinheiro no bolso forjou um sequestro e pediu ao sogro rico que depositasse o resgate em sua conta. A manchete?
SEQUESTRADO O HOMEM MAIS BURRO DO MUNDO
      No dia em que os soldados do Tio Sam chegaram à Bósnia para enfrentar uma guerra cruel, não deu outra:
É GUERRA! AMERICANOS PISAM NA BÓSNIA!
      Quando chegaram as eleições nas Filipinas, mesmo não sendo a favorita, a manchete do Aqui Agora foi:
ELEIÇÕES NAS FILIPINAS! VAI DAR IMELDA!
      Mas a melhor manchete mesmo saiu quando o repórter Carlos Cavalcante foi cobrir uma manifestação de estudantes na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Os alunos protestavam contra o aumento da mensalidade e na confusão acabaram dando uma paulada na cabeça do pobre repórter. E lá vem a manchete:
REPÓRTER DO AQUI AGORA LEVA PAU NA FACULDADE DE JORNALISMO!

terça-feira, 13 de março de 2012

Eu te dedico

Por Alberto Villas, Carta Capital

      Confesso que sou rato de sebo. Meu vício começou no início dos anos 70 nas ruelas do Quartier Latin, em Paris. Foi lá que percorrendo os porões da livraria Joie de Lire descobri as edições originais com os primeiros poemas de Ernesto Cardenal. Foi na Shakspeare and Company que tive o prazer de conhecer aquelas edições maravilhosas das obras de Ezra Pound. Foi lá também que arrematei alguns exemplares amarelados cheirando a mofo da National Geographic americana. Era lá que, ao cair da tarde, costumava tomar um chá preto ao lado de George Whitman, que não tirava os olhos do New York Review of Books, sua paixão.
      Em São Paulo e no Rio já percorri todos, creio. Cada um mais curioso que o outro. Alguns já informatizados e outros ainda bastante desorganizados, como eu gosto. Já corri sebos pelos quatro cantos do mundo. Um dia em Veneza trombei com um livro de Luiz Fernando Emediato e outro sobre a vida de Zé Arigó. Foi em Lisboa que comprei um compacto-simples de Zé Keti com a gravação original de A Voz do Morro. E foi em Les Andellys, no interior da França, que paguei um punhado de euros por um Henri Salvador cantando Juanita Banana. O vício não me deixa passar uma semana sem entrar num sebo. Seja para namorar aquela coleção da Placar dos anos 70 no Red Star de Pinheiros ou para admirar os volumes impecáveis do Tesouro da Juventude no Sebo do Messias.
      Nos últimos tempos minha diversão tem sido caçar dedicatórias, um capítulo a parte nessa aventura de percorrer sebos. Outro dia encontrei num exemplar de Teorema, de Pier Paolo Pasolini, a seguinte dedicatória: “O teorema é legal, o teorema é tudo, sou eu, é você, tudo que vejo e o que não vejo. O teorema está solto na vida, vagando, pensando, sendo”. Quem teria escrito essa equação hiponga em 1970 e para quem?
      Num velho exemplar de Fazenda Modelo, de Chico Buarque, encontrei o seguinte: “Laura, essa terra ainda vai tornar-se uma imensa fazenda modelo”. Onde andará Laura? E que fim levou a nossa fazenda modelo? Que motivo teria levado Laura a se desfazer de tão raro exemplar? Por que o livro do Chico foi parar nesse galpão na Praça João Mendes?
      Num livro de poemas de Drummond, alguém escreveu: “José, e agora? Paixão”. Mas as grande paixões mesmo estão perdidas, sem dúvida, nas capas dos vinis de Maria Bethânia, Simone e Gal Costa. “Amor, não vou assinar essa dedicatória, mas saiba, eu sou o seu pássaro proibido!”, escreveu alguém na capa do Pássaro Proibido. No disco Cigarra, de Simone, um certo Luiz Gustavo escreveu apenas “Zi zi zi zi zi zi zi… Te amo!” No Caras e Bocas da Gal Costa, Mauro caprichou na letra: “Ana, com um beijo do teu primeiro amor”. Teria sido Mauro o primeiro amor de Ana? E porque será que Ana abandonou o Caras e Bocas nesse sebo da Lapa?
      No dia 25 de dezembro de 1987, alguém ganhou de Natal da Dri A Volta do Parafuso, de Henry James, com a seguinte dedicatória: “Tomara que a gente sempre fique dando voltas junto no parafuso da vida”. O tempo fechou para a Fátima, que deu de presente a Kristina o livro Bruxaria no Pé de Feijão, de Maria Helena Coelho: “Os tempos mudaram, mas há muito tempo não acontece nada”, disparou ela na dedicatória.
      Há vinte e cinco anos, Mônica deu de presente a José Antônio o Livro dos Sonetos, de Vinícius de Moraes, com a seguinte dedicatória: “Ao meu amor, um simples incentivo para que você sempre ganhe as nossas apostas”. Que apostas? Bruno Andreucci, autor do livro Versos que guardei, mandou os seus poemas para o Silvio Vernosa. O Silvio não guardou os versos de Bruno e o livro foi parar num sebo da Avenida São João.
      Não faz muito tempo arrematei num sebo da Freguesia do Ó uma coleção completa da fase áurea da revista Planeta. Dentro de um exemplar, um papel envelhecido trazia um nome e um endereço: Francelina 61 8692. Pensei em ligar só por curiosidade. Inútil, pois esse número não há mais. Talvez nem mesmo Francelina haja mais.
      Se você gosta de bisbilhotar dedicatórias dê um pulinho no site http://eutededico.tumblr.com/ que fiquei conhecendo hoje. Você vai se divertir, você vai se emocionar.

quarta-feira, 7 de março de 2012

O poema do semelhante

Elisa Lucinda

O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos,

Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.

Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.

Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
É mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.

O Deus que cuida do
não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.

O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente

Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.
Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança

segunda-feira, 5 de março de 2012

5 de março de 2012: 125 anos de Heitor Villa-Lobos


Fonte: Jornal do Brasil


Heitor Villa-Lobos. Reprodução
"A música folclórica é a expansão, o desenvolvimento livre do próprio povo expresso pelo som". Villa-Lobos
      Heitor Villa-Lobos nasceu na Cidade do Rio no dia 5 de março de 1887. Levado pelo pai a estudar instrumentos musicais, aos 13 anos já fazia parte de grupos seresteiros. Em 1905, viajou pelo Brasil, em busca das raízes folclóricas, de onde tiraria inspiração. Por volta de 1913, deu início à sua produção, sob influência de Debussy. Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna, em São Paulo, e, no ano seguinte, viajou para Paris. Em 1930, famoso na Europa, voltou para o Brasil.
      Preocupado com o desenvolvimento artístico do país, Villa-Lobos percorreu o interior em caravanas culturais. Dono de 12 sinfonias, 17 quartetos para cordas, concertos para piano e orquestra, além de óperas, como Malazarte (1921), morreu em sua cidade natal, no dia 17 de novembro de 1959, aos 72 anos de vida, após meses de sofrimento decorrentes de uma grave uremia.
      Em seus últimos dias, as mãos que regeram com maestria tantas sinfonias estavam trêmulas e fracas.


domingo, 4 de março de 2012

A Itália chora a morte do genial Lucio Dalla

Gianni Carta, Carta Capital


Mito na Itália e reconhecido mundialmente, as canções do músico falecido na Suíça na quinta inqueitavam e, ao mesmo tempo, fascinavam. Foto: AFP

      Com sua voz forte e original, ele (Lucio Dalla) contribuiu para renovar e promover as músicas italianas no mundo.” Palavras de Giorgio Napolitano, presidente da Itália, onde o músico e compositor Dalla é um mito.
      Dalla morreu de ataque cardíaco na quinta em Montreux, Suíça, durante um tour europeu. Tinha 68 anos (69 no domingo), e parecia estar em grande forma. Duas semanas antes de ir a Montreux ele havia arrancado calorosos aplausos da plateia do célebre Festival de Canção de Sanremo com sua música Nani.
      Foi em Sanremo, aliás, que sua carreira de mais de 40 anos teve início, em 1971, com Gesù Bambino. A canção foi censurada porque alerta que a mãe de Jesus era solteira. Impassível, o artista resolveu rebatizá-la com a data de seu aniversário, 4/3/43. Minha História é a versão de 4/3/43 de Chico Buarque.
      Nascido em Bologna, Dalla, que em 2008 veio cantar no Brasil, vendeu milhões de discos mundo afora. Era um músico eclético, capaz de mesclar folk, jazz e música clássica. Compunha canções anticonformistas e usava uma linguagem coloquial. Dalla inquietava, e, ao mesmo tempo, fascinava.
      Caruso, para numerosos experts sua canção mais famosa, foi cantada em 1992 por Luciano Pavarotti em um concerto em Modena. Sucesso total: mais de 9 milhões de discos foram vendidos mundo afora.
      Dalla também compôs para diretores de cinema como Mario Monicelli, Michelangelo Antonioni, Michele Placido e Claudio Verdone. O músico, que iniciou sua carreira como clarinetista do grupo Flippers, aos 20 anos, era também saxofonista e tecladista. Todas as formas de arte o interessavam. Era, por exemplo, curador de uma galeria de arte contemporânea em Bologna.
      Disse o cantor Eros Ramazzotti: “Ele foi um dos melhores”. Na sua conta no Twitter, Laura Pausini exprimiu o sentimento de todos os fãs de Dalla: “Não consigo acreditar nessa notícia”.