sábado, 11 de fevereiro de 2012

Adele, uma estranha (bem-vinda) no ninho espalhafatoso da música pop

      Cantora britânica se torna o fenômeno de vendas sem precisar de coreografias rebolativas nem letras de cunho sexual como suas oponentes
      Rodrigo Levino, Revista Veja

Cantora britânica Adele bate recordes de venda
(Sean Gallup/Getty Images)
      Em 2008, quando Adele lançou o seu primeiro disco, 19, foi saudada como a nova Amy Winehouse. Mas, a bem da verdade, afora as referências ao gênero musical e uma predisposição para tratar das próprias angústias em suas composições, são duas artistas distintas. Amy, sem rumo e dada a excessos; Adele, uma antimusa recatada.
      É essa a imagem que ela mantém em 21, seu segundo disco, lançado aqui em abril deste ano. A voz de timbre rouco e potente serve de suporte a canções com letras confessionais que por pouco não passam da conta no açúcar - muito diferente de Amy e sua verve romântica tresloucada. Adele também se diferencia no rol de influências, lançando mão de folk e rhythm’n’blues em suas composições.
      A maioria das letras da diva rechonchuda fala de namoros fracassados e de dificuldades de adequação social. A cantora nunca negou que trate de sua vida nas canções. Tanto que deu margem a que um ex-namorado pensasse em processá-la, alegando direito aos royalties das faixas que teria inspirado. Loucuras à parte, 21 é um disco que confirma Adele entre as expoentes da sua geração.
      Canções como Rolling in the Deep, Someone Like You, Set Fire to The Rain e Lovesong (versão de música já gravada pela banda The Cure) impulsionaram as vendas de seus discos, 19 e 21 - os números correspondem à sua idade na época do lançamento. Do dia para a noite, Adele deixou de ser uma branquela redonda e chorosa para se tornar, até agora, o maior fenômeno de vendas do ano. 
      Desde 1990, quando Madonna lançou The Immaculate Collection, uma mulher não ficava em primeiro lugar por dez semanas consecutivas na parada inglesa. Adele foi lá e bateu a marca. Nos Estados Unidos, ela ultrapassou a soma de 1 milhão de discos vendidos e obrigou Lady Gaga, depois de Born This Way despencar 84% nas vendas de uma semana para outra, a disputar palmo a palmo um lugar na parada de sucessos.
      Para o crítico de música da revista americana The New Yorker, Sasha-Frere Jones, Adele é prestigiada nos Estados Unidos por um público branco, de meia-idade, que não sabe fazer download e precisa ir à rede de café Starbucks comprar discos. O que justificaria a explosão nas vendas.
      Sem muito talento para a dança nem as coreografias de apelo sexual, resta a Adele fazer o que lhe cabe bem: cantar. Produzido por nomes experientes do ramo, como Rick Rubin (Johnny Cash, Red Hot Chilli Peppers e The Gossip) e Paul Epworth (Cee Lo Green), 21 chegou ao topo como um elemento estranho, cercado por beldades como Rihanna, Shakira e Britney Spears. E deve se manter por uma mistura de talento e qualidade. Pedir autenticidade no soul de boutique que Adele canta já seria demais.

Comentário do blog: Não sei se o fato se deve à cultura brasileira, mas é incrível como o repórter não conseguiu escapar da obviedade de bater na tecla da questão do phisique du rôle da cantora...



2012- o fim do mundo

Kledir Ramil
     
      Segundo as leituras que andam fazendo do calendário Maia, em 2012 estaremos chegando ao fim do mundo. Gostaria de aproveitar a oportunidade e me despedir de todos. Foi um prazer ter vocês como companheiros de viagem durante esses anos em que estivemos nos equilibrando sobre essa bola simpática, que gira pelo céu a uma velocidade espantosa de 1674 km/h. Isso mesmo, é mais que a velocidade do som. Nunca consegui entender como é que a gente não cai e nem perde o equilíbrio, o que, a essas alturas, já não importa mais.
      Eu achava que iria acabar antes do mundo e já estava me preparando para receber a recompensa que me foi prometida. Todas as religiões afirmam que a gente vai sair dessa pra outra melhor, desde que se comporte direito. Fiz meu dever como um aluno aplicado e abri mão de tudo que era proibido. Me dediquei à prática das virtudes e, com enorme esforço, evitei os pecados. Alguns bem interessantes. Levei uma vida de santo, com o objetivo claro de alcançar a vida eterna, num quarto com vista pro infinito, um mínimo de conforto e regalias, sem ter que me preocupar com contas para pagar.
      Agora, comecei a ficar preocupado. Caso se confirmem essas previsões de uma grande catástrofe definitiva, não sei se as promessas das igrejas serão cumpridas. Sim, porque uma coisa é morrer sozinho e ser recebido no céu com carinho e atenção. Outra coisa é chegar um bando de 7 bilhões de almas querendo entrar no portão. Quem vai organizar isso? Será que tem lugar pra todo mundo? Será que o pessoal está preparado? Se em um teatro com lotação esgotada já é difícil segurar o público que ficou sem ingresso, imagina uma situação dessas.
      Estou começando a me sentir como aquele cara que apostou na bolsa tudo o que tinha e saiu lesado. Tenho um patrimônio de vida que me daria direito a uma série de privilégios para todo o sempre. Mas se a coisa sair do controle, quem me garante? Mesmo que consigam organizar o engarrafamento do registro de entrada, periga eu ficar numa fila interminável com gente exaltada gritando “isso é o fim do mundo!”. O que não deixaria de ser verdade.
      Era só o que me faltava. Acho uma maldade com um cara que teve uma vida exemplar. Não era isso que eu esperava da vida eterna.
      Tomara que as previsões estejam erradas.