Rio - Sim, caro leitor. O título acima, longe de ser um erro tipográfico, é um convite à reflexão. E que música ‘veste’ hoje o leitor? Seria o sax de Lester Young para combinar com aquele blazer de linho? Ou talvez o metal do Angra, trilha sonora de sua ‘tattoo’ da morte? Ou ainda, quem sabe, o doce timbre de Marisa Monte é a brisa que balança aquele levíssimo vestido de algodão e joga, para um lado e para o outro, suas belas madeixas naquele dia quente de verão? Mas agora eu pergunto ao nobre leitor: ao ouvir a nona sinfonia de Beethoven, que vestimenta lhe vem à cabeça? Seria o guarda-roupa de Maria Antonieta? No mundo da imagem, não é tarefa fácil para as sinfônicas a de atrair novos públicos.
Principalmente quando lidamos com um evento que pouco mudou nos últimos dois séculos. Para agravar a situação, como vender como atraente um espetáculo que dura em média duas horas ‘isoladas’ do mundo, seja ele real ou virtual, para gerações que se alimentam — e se satisfazem — com a rapidez dos 140 caracteres do Twitter?
Não acredito que a solução venha de maneira imediata, simplesmente trocando, nos concertos, a casaca pelo jeans. Porém “vestir Beethoven de jeans” pode ser, conceitualmente, um dos caminhos vitoriosos nesta empreitada. Iniciativas como a da jornalista Heloísa Fischer e seu site Viva Música, a das séries ‘Iberê Camargo’ na Orquestra Petrobras Sinfônica e ‘OSBA +’, na Orquestra Sinfônica da Bahia, além, é claro, do fenômeno Dudamel e todo o ‘El Sistema’ venezuelano, têm algo em comum: vendem música clássica em uma embalagem diferente, atuando em frentes musicais e visuais, servindo como chamariz para experiências maiores no Theatro Municipal, Castro Alves, Sala São Paulo, ou qualquer outro lugar que ofereça uma experiência acústica plena ao ouvinte. Provam que a música clássica permanecerá sempre atual, vibrante, pulsante e, principalmente, provocadora, assim como a natureza do jovem.
O enorme sucesso de projetos como estes têm aumentado em muito o público das salas de concerto e provam que a convivência com a música de entretenimento pode e deve existir de maneira saudável. Apesar de maestro, sou fã declarado de tudo que citei no primeiro parágrafo, pois música é algo muito forte e transformador para ser legado a determinado estereótipo. E confesso que a única influência que este ‘mundo rápido’ me exerce neste sentido é a de passar em fração de segundos de Alban Berg para Coldplay, ponte determinada pelo comando aleatório do meu iTunes.
Carlos Prazeres é Regente Assistente da Orquestra Petrobras Sinfônica