domingo, 20 de maio de 2012

O brinquedo da vez

Folha da Manhã



Já dizia o filósofo Nietzsche, em seu conceito do Eterno Retorno, que estamos sempre presos a um número limitado de fatos, fatos estes que se repetiram no passado, ocor- rem no presente e se repetirão no futuro. Quando ele escreveu isso não deve ter pensado no mundo dos brinquedos infantis, mas até aí, a ideia se encaixa. Os antigos brinquedos que faziam a diversão da molecada nas décadas passadas são os mesmos brinquedos que fazem a diversão deles nos dias de hoje, mesmo em época de super videogames e televisão 3D. Eles surgem e desaparecem de acordo com o tempo, mas, no final, estão todos aí: o pião, o bambolê, as balebas e — é claro — o grande sucesso do momento, o bate-bate ou bat-bag.
Passatempos e brincadeiras de rua, às vezes, parecem estar se tornando muito distante da infância dos mais novos. Ser criança parece não ser mais o que era há algumas décadas, ou mesmo, alguns anos. Porém, quando a mais recente versão de um videogame chega às lojas, as crianças, simplesmente, olham para o lado e pedem um brinquedinho diferente. Lá está ele, o bate-bate.
Simples e divertidos, eles exercitam o imaginário e a fantasia das cri-anças e dependem largamente de seu entrosamento e interação. Educadores e especialistas de todo país creditam a esses simples brinquedinhos a promoção de uma maior interação entre jovens, nesta época marcada pe-la individualidade.
Mas há quem não dê crédito a esse resgate de costumes. Para o sociólogo e professor Aristides Soffiati, tudo não passa de pura manobra comercial.
— Existe um micromeio, que produz a cultura de massa e a lança para o macromeio, a população. Eles nunca perdem contato e quando o micromeio percebe tendências no macro, as elabora e lança para consumo. A cultura tradicional é criada pelo próprio coletivo de um meio, mas o que vemos aqui é a mídia ressuscitando a moda e colocando-a em prática em nome da economia de mercado. É a cultura de massa, dita pelo mercado e consumida — diz Soffiati.
Mas nem todos compartilham desta opinião. Segundo Márcia Pessanha, educadora e professora de Pedagogia, conhecer brinquedos antigos, e adequá-los aos dias atuais, adaptando-os ao cotidiano escolar, são tarefas benéficas à formação dos pequenos.
— Não creio que a volta dos brinquedos antigos seja uma estratégia comercial, até porque eles custam baratinho, duram muito e podem ser compartilhados por várias crianças, o que foge totalmente das intenções do mercado — explica a educadora, ao acrescentar que a interação com os brinquedos antigos possibilita um exercício muito maior da criatividade das crianças.
— Os “velhos” brinquedos são simples, mas permitem o exercício fantástico da superação de dificuldades e até mesmo das limitações. Eles vão tornando o usuário, cada vez mais hábil, à proporção que brinca e descobre formas novas de brincar. Os brinquedos antigos, com certeza, diminuem a distância entre pequenos e grandes, permitem brincar junto e redescobrir prazeres simples, mas preciosos — completa.
Para os pais, a nova onda de brinquedos do passado traz pontos positivos e negativos. A comerciante Violeta Moraes, de 38 anos, se diz contente com o bate bolas do filho. “É uma brin- cadeira saudável, que inclusive traz coisas em comum entre nós: eu e meus irmãos brincávamos disso, e agora vejo minha infância refletida em meu filho. Claro que tudo precisa de limite. Imagine o barulho do bate bolas o tempo todo?”, conta.
Em novas ou velhas versões, os brinquedos continuam cum- prindo a mesma função. “Tu-do na vida é circular, como o próprio planeta. Chegamos a um ponto, que se faz necessá- rio recuperar o brinquedo per- dido, ele torna o sujeito melhor, mais disposto a estar em comunidade. Um verso, de uma canção conhecida, estaria bem posto aqui: ‘De volta ao começo...’ Por quê? Porque assim tem que ser”, finaliza Márcia Pessanha.

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