terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Do Príncipe ao sim

Elisa Lucinda
Fonte: http://www.escolalucinda.com.br/

O homem que eu amo
veio de tanto eu pedir
mas quando parei de esperá-lo
veio quando eu ao depená-lo
do meu sonho receio,
permiti que em vez de início ou fim
ele no meio de mim
fosse só o meio.
Não meio no sentido tático
de jeito ou de modo.
Meio no sentido de durante
de enquanto
de presente.
Quando abandonei o título futuro
definitivo da eternidade
o rótulo azarento de garantia
no departamento de intimidade,
quando abandonei o desejo
de ressarcir aqui
o que perdi na antigüidade,
meu homem chegou cheio de saudade
ocupando inteiro
seu lugar de meio
sua inteira metade.

4 de agosto de 1995

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Raça Humana

Gilberto Gil


A raça humana é
Uma semana
Do trabalho de Deus.
A raça humana é a ferida acesa
Uma beleza, uma podridão
O fogo eterno e a morte
A morte e a ressurreição.
A raça humana é o cristal de lágrima
Da lavra da solidão
Da mina, cujo mapa
Traz na palma da mão.
A raça humana risca, rabisca, pinta
A tinta, à lápis, carvão ou giz
O rosto da saudade
Que traz do Gênesis
Dessa semana santa
Entre parênteses
Desse divino oásis
Da grande apoteose
Da perfeição divina
Na grande síntese.
A raça humana é
Uma semana
Do trabalho de Deus.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Oração À Solidão

Silvia Costa da Silva

Antes de tudo desconfio da tua existência
Mais do que isso, antes que me traias em pensamento, eu mesma o faço
Odeio pensar em estar sozinha por tua causa nos momentos em que mais precisava de alguém ao meu lado
Retardatário do tempo e espaço, demoras demais, e eu o antecipo em tudo e me basto

Amor só tem um A que o justifique
O resto é morte, ódio e razão.
Digo não ao teu coração
Amém!

sábado, 28 de janeiro de 2012

Lamento Do Sétimo Dia

Silvia Costa da Silva

No sétimo dia
Da tua morte para mim
Vi tua alma a caminhar.

No sétimo dia
Da tua missa rezada por mim
Vi tua cara a me afrontar.

No sétimo dia
Vagas pela escuridão
À procura de quem lhe feche os olhos
Abertos na solidão.

No sétimo dia
És alma penada
Pela pena que compraste
Pelos vinténs que valem nada.

No sétimo dia
Acordei para o mundo
E vi o teu corpo mudo
Calando a culpa no fundo...

Do sétimo dia
Onde mataste com a alma fria
Milhares de vidas
Plantadas, perdidas
Nos sonhos sem fim.